Como diminuir o impacto das adversidades climáticas na soja?

Um dos fatores que mais geram incertezas e dúvidas nos agricultores são as adversidades climáticas na soja, e é exatamente sobre isso que esse conteúdo vai tratar. 

Não consegue ler agora? Aproveita então para ouvir a versão em áudio deste post no player abaixo.

Para começar, vamos falar sobre clima, no geral.

Clima

Esse fator é tão importante porque é ele que determina aproximadamente 50% da produtividade de uma planta. Os outros 50% são determinados pelo solo, genética e manejo.

Fatores que impactar a produtividade da planta

Vale lembrar que o clima ‘conversa’ muito com os outros fatores (solo, genética e manejo). Dessa forma, quanto mais eficiente forem as práticas relacionadas a esses outros três fatores, menos “reféns das condições climáticas nós ficamos e os impacto das adversidades climáticas na soja são menores.

Um artigo da conceituada revista Nature, de 2019, mostra de forma bem detalhada como estresses abióticos (causados por clima) e estresses por deficiências nutricionais afetam a produtividade agrícola nos diferentes países do mundo.

Olhando para o Brasil, podemos observar que aproximadamente 40% das perdas de produtividade das culturas plantadas em nossos solos acontecem por conta de estresses abióticos (falta ou excesso de água no solo, temperaturas extremas (altas e baixas), excesso ou falta de radiação).

Assim, podemos concluir que o foco e preocupação com adversidades climáticas na soja é de fundamental importância e relevância para a produtividade de nossas lavouras.

Gráfico de estresse abiótico no Brasil

Quais são os hormônios produzidos durantes os estresses?

Grande parte das nossas práticas de manejo visam conservar a fotossíntese das planta porque é ela que vai fazer carboidratos para encher os grãos. E alguns hormônios que são produzidos pelas plantas durante estresses abióticos afetam negativamente a fotossíntese.

Especialmente dois hormônios são produzidos em quantidades muito grandes: o Ácido Abscísico (ABA) e o Etileno. Eles atuam da seguinte forma:

O Ácido Abscísico (ABA) causa alguns efeitos negativos quando produzido em grandes quantidades:

1. Fechamento estomático

No processo de fotossíntese, a planta, através dos poros (estômatos), troca gases com a atmosfera – absorve gás carbônico e libera oxigênio. Com esses estômatos fechados, a fotossíntese é reduzida e a produtividade também. 

2. Senescência

É um processo de morte celular!  O Ácido Abscísico juntamente com o Etileno atuam causando esse amarelecimento de tecidos (senescência). Células que estão passando por esse processo deixam de sintetizar clorofila, Rubisco e outros metabólitos essenciais à vida da folha, já que é um processo de morte do tecido.

O Etileno, além de atuar junto com o Ácido Abscísico causando o processo de senescência, causa também a queda dos órgãos (folhas, frutos e flores  no chão, por exemplo).

Para melhor visualização, vamos observar como o Ácido Abscísico é produzido na planta.

Fechamento estomático ocorre pela ação de ABA

De acordo com a imagem, o estresse hídrico é caracterizado pela presença do Ácido Abscísico (Planta H).

Isso fica claro na pesquisa, já que na planta G o Ácido Abscísico foi aplicado manualmente e a H representa uma planta que foi submetida ao estresse hídrico. Ambas as imagens representam sinais equivalentes do hormônio (tudo o que está pintado em azul é resposta de ácido abscisico), indicando que ABA é o hormônio sinalizado durante esse tipo de estresse.

O gráfico da direita mostra como nessas condições, a assimilação de CO2 vai diminuindo, dia após dia. Quanto mais prolongado for o período de estresse, maior é o nível de Ácido Abscísico na planta e menor é a fotossíntese.

Hormônios antagônicos

Enquanto o Ácido Abscísico fecha os estômatos, a citocinina (outro hormônio vegetal promotor de crescimento)  atua no sentido contrário, promovendo a sua abertura, aumentando a assimilação de CO2 e consequentemente as taxas de fotossíntese.

Fotossíntese na soja (produção de carboidratos)

Aqui vamos falar sobre como varia a taxa fotossintética da planta ao longo do seu ciclo.

Fotossíntese na soja

 

Como podemos observar no gráfico, desde a germinação da planta, há o aumento gradativo da taxa fotossintética. E de R1 em diante, também há o aumento gradativo e linear da massa total de estruturas reprodutivas.

O pico de fotossíntese não coincide com o pico de massa seca de grãos porque quando a planta vai chegando no final do seu ciclo (próximo de R6), já está gastando pouco carboidrato para manter a fotossíntese em suas folhas. Ou seja, é uma planta que já está fazendo pouco de todos os metabólitos que são importantes para a fotossíntese.

Por isso, há uma queda brusca da fotossíntese, mas ainda há ganho de massa de grãos.

Então, de onde vem a diferença de carboidratos, se isso não está vindo da fotossíntese?

E para responder essa pergunta, trago um conceito fundamental, que é a remobilização de carboidratos das estruturas vegetativas da planta.

Se a fotossíntese caiu bruscamente, o carboidrato tem que ser remobilizado do que a planta já produziu e armazenou (nas folhas, no caule, na raízes).

Então, podemos concluir que o final do desenvolvimento da vagem vem da massa seca da planta.

Para exemplificar esse conceito, do impacto do desenvolvimento vegetativo na produtividade, vamos a outro artigo:

Massa seca de planta em R5

Observe que há correlação entre a massa seca das estruturas vegetativas (folhas e ramos) no estádio e a produtividade. 

Então, concluímos que plantas que vegetam pouco, produzem menos porque o final do enchimento depende da translocação de carboidratos das estruturas vegetativas.

Uma planta bastante vigorosa em termos vegetativos também colabora para a produtividade final, porque parte dos carboidratos do grão vem das folhas e ramos.

Bom, para finalizar e exemplificar esse conceito, vamos observar o caso desse tomateiro (imagem abaixo). Aqui, quero destacar a importância desse balanço entre as estruturas vegetativas e reprodutivas.

Estruturas vegetativas e reprodutivas do tomateiro

Olhando para a imagem, observamos que não adianta ter um número muito grande de flores fecundadas para se desenvolverem em frutos, se a planta apresentar desenvolvimento vegetativo pouco vigoroso. Isso porque não teremos fotossíntese em níveis adequados para a produção de açúcares que serão translocados para dentro destes frutos e que garantirão o seu enchimento.

O oposto também é verdadeiro. Uma planta que vegeta excessivamente terá redução no seu número de flores. Mesmo tendo carboidratos produzidos em níveis adequados, não haverão frutos em desenvolvimento em quantidade suficiente para receberem todo esse alimento produzido pela planta.

Portanto, o que devemos buscar é uma arquitetura intermediária (ilustrada na imagem abaixo): Uma estrutura vegetativa bastante robusta, vigorosa, e ao mesmo tempo, um grande número de estruturas reprodutivas (ramos reprodutivos e flores). Além disso, apenas as flores fecundadas e que não forem abortadas é que se desenvolverão em vagens. Por isso, um bom pegamento de flores (baixa taxa de abortamento) é essencial para que o balanço entre as estruturas vegetativas e reprodutivas se converta em produtividade.

Nessa outra imagem, eu mostro uma solução para chegarmos a esse balanço.

Exemplo de planta com estrutura vegetativa e reprodutiva balanceada

Uma planta vigorosa, com desenvolvimento equilibrado e que apresenta alta capacidade fotossintética e potencial produtivo.

Não se esqueça de considerar esses tópicos durante o seu planejamento e estudo, produtor! É assim que começamos a caminhar para lidar melhor com as adversidades climáticas na soja.

Jonata Freschi

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