Fusarium em soja: muito além de manchas avermelhadas nas raízes

O Fusarium em soja, popularmente conhecida como Podridão Vermelha da Raiz (PVR), é causada pelos fungos (Fusarium brasiliense, F. crassistipitatum, F. tucumaniae) e é uma das principais e mais preocupantes doenças que acometem a cultura da soja, principalmente pela dificuldade de controle e potencial em causar danos. Embora os danos em soja possam variar em função da sensibilidade da cultivar e período em que ocorre a infecção, Freitas; Meneghetti; Balardin (2004), destacam que perdas de produtividade variando entre 20% e 80% podem ser observadas na cultura afetada.

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Sintomas do Fusarium em soja

Dependendo da intensidade de infestação e suscetibilidade da cultivar, o Fusarium em soja pode ocorrer em reboleiras ou de forma generalizada na lavoura. O patógeno acomete principalmente as raízes da soja, podendo causar sintomas secundários na parte área da planta. Nas raízes, a infecção tem início com uma mancha avermelhada, mais visível na raiz principal, geralmente localizada 1 cm a 2 cm abaixo do nível do solo, circundando a raiz e passando da coloração vermelho-arroxeada para castanho-avermelhada a quase negra. Essa necrose acentuada localiza-se no córtex, enquanto que a medula da raiz adquire coloração, no máximo, castanho-clara, estendendo-se pelo tecido lenhoso da haste a vários centímetros acima do nível do solo (Seixas et al., 2020).

Normalmente as raízes da planta infectada apresentam menor volume em comparação a plantas sadias, podendo inclusive estarem deterioradas em função do apodrecimento (morte das raízes). Além do volume de raízes, a quantidade de nódulos (oriundos da fixação biológica de nitrogênio) pode ser inferior em comparação a plantas normais. Na parte aérea da planta infectada, um sintoma típico da ocorrência da doença é o aspecto “carijó” das folhas, decorrente do amarelecimento prematuro (clorose), evoluindo para a necrose entre as nervuras, podendo em alguns casos, observar-se a desfolha prematura da planta. Figura 1. Folha e raiz de soja infectada pela podridão vermelha da raiz, causada pelos fungos Fusarium brasiliense, F. crassistipitatum e F. tucumaniae.

Foto: R.M. Soares

Fusarium em soja

Geralmente a podridão vermelha da raiz é observada durante o período reprodutivo do desenvolvimento da soja, próximo ao florescimento, observando-se os primeiros sintomas na parte aérea da cultura normalmente a partir do estádio R4 do desenvolvimento da soja. Contudo, sob condições de alta infestação e suscetibilidade de cultivar, os sintomas visuais da ocorrência da doença podem ser vistos ainda no período vegetativo do desenvolvimento da soja.

Condições de desenvolvimento

Temperaturas amenas, variando entre 22°C a 24°C são consideradas ótimas para o desenvolvimento da doença (Embrapa, 2021), sendo esse, limitado por temperaturas superiores a 30°C. Embora a podridão vermelha da raiz não seja considerada uma das doenças fúngicas mais frequentes da cultura da soja, solos mal drenados e compactados tendem a favorecer o desenvolvimento da doença, podendo se tonar um problema frequente nessas áreas, caso as devidas medidas de manejo não sejam adotadas para o controle da doença.

Controle

Infelizmente, o emprego de fungicidas não é eficiente para o controle da podridão vermelha da raiz. Como estratégias de manejo para a doença, recomenda-se evitar a semeadura em solos mal drenados e compactados, a rotação de culturas e o posicionamento de cultivares com maior resistência genética aos fungos. Cabe destacar que a rotação de cultura com o milho e milheto não são consideradas eficientes para o controle de podridão vermelha da raiz, sendo necessário, adotar o cultivo de outras culturas como sorgo e trigo em áreas com histórico de ocorrência da doença.

Com relação a cultivares de soja, pode-se dizer que cultivares de ciclo precoce tendem a sofrer menos danos quando infectadas pela doença (Henning et al., 2014), podendo o posicionamento da cultivar com base no ciclo ser uma ferramenta de manejo. Embora atualmente novas tecnologias permitam a aplicação de fungicidas no sulco de semeadura ou até mesmo no tratamento de sementes, cabe destacar que o efeito desses defensivos é limitado para o controle da doença. Da mesma forma, por se tratar de um sintoma secundário, a aplicação de fungicidas na parte aérea da soja não exerce efeito sobre o controle da podridão vermelha da raiz.

Embora os danos em decorrência da PVR possam variar em função da cultivar e período da infecção, em algumas situações essa doença pode causar significativas perdas produtivas na cultura da soja, não devendo ser subestimada. Ainda que o controle com fungicidas não seja eficiente, como visto anteriormente algumas estratégias de manejo como o posicionamento de cultivares, manejo do solo e rotação de culturas podem contribuir para o bom manejo da doença.

Referências:

EMBRAPA. PODRIDÃO VERMELHA DA RAIZ. Embrapa: Soja, 2021.

FREITAS, T. M. Q.; MENEGHETTI, R. C.; BALARDIN, R. S. DANO DEVIDO À PODRIDÃO VERMELHA DE RAIZ NA CULTURA DA SOJA. Ciência Rural, v.34, n.4, jul-ago, 2004.

HENNING, A. A. et al. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DE DOENÇAS DE SOJA. Embrapa, Documentos, n. 256, 2014.

SEIXAS, C. D. S. et al. MANEJO DE DOENÇAS. Tecnologias de Produção de Soja, Embrapa, Sistemas de Produção, n. 17, cap. 10, 2020.

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