Qual o impacto do clima na qualidade da fibra de algodão?

A fibra do algodão é um organismo vivo quando está em desenvolvimento, e é altamente afetada pelos fatores ambientais. A formação da fibra após a fertilização da flor pode durar entre cinquenta e setenta dias dependendo do ambiente. Além de afetar o tempo de desenvolvimento, o ambiente pode também modificar as características de qualidade.

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Temperatura, disponibilidade hídrica e radiação são os principais fatores ambientais que impactam a formação da fibra de algodão, e à medida que passam os dias durante o ciclo da planta, a disponibilidade desses fatores vai reduzindo. A temperatura ideal para atingir o melhor micronaire é de 26°C, segundo Lokhande e Reddy, 2014. Temperaturas principalmente abaixo de 26°C podem afetar fortemente o micronaire da fibra, como podemos observar na Imagem 1.

Temperaturas abaixo de 26°C podem afetar fortemente o micronaire da fibra

A fibra do algodão é composta por mais de 90% de celulose, e tanto a baixa como a alta temperatura, principalmente noturna, afetam negativamente a deposição de celulose, o que pode impactar na qualidade da fibra. Para a planta de algodão avançar em suas fases fenológicas ela precisa acumular os graus-dias necessários, portanto, se ocorrer baixas temperaturas durante o desenvolvimento da planta, seu ciclo poderá ser alongado para épocas  em que a disponibilidade de água e luz são baixas, tendo formação de frutos tardios e resultando em fibras de baixa qualidade.

Além da baixa temperatura afetar indiretamente a formação dos frutos mais tardios, também pode afetar o desenvolvimento dos frutos na época em que ela ocorrer devido a redução da atividade das enzimas que estão ligadas na síntese de carboidratos. Um estudo realizado por Tang et al em 2017 mostra que o déficit hídrico também pode reduzir a atividade de enzimas chaves na síntese de açúcares na planta de algodão, o que resulta em um alongamento mais lento da fibra, afetando negativamente o comprimento, conforme a Imagem 2.

déficit hídrico também pode reduzir a atividade de enzimas chaves na síntese de açúcares na planta de algodão

O sombreamento pode ocorrer em grande parte do ciclo do algodoeiro pelo alto volume de precipitação, e isso acaba limitando a formação de carboidratos pela diminuição da radiação, o que pode resultar em menor resistência da fibra, como mostra a Imagem 3, adaptado de Chen et al., 2017.

redução da qualidade da fibra pela diminuição da radiação

A redução da qualidade da fibra pela diminuição da radiação pode ser ocasionada também pelo aumento da abscisão dos botões florais que iriam gerar as fibras de melhor qualidade, que estão localizadas no terço inferior e médio da planta. O algodoeiro está sujeito a passar por estresses ambientais durante seu ciclo de desenvolvimento, porém, esse estresse pode ser reduzido ou até mesmo evitado por técnicas de manejo. Uma projeção feita por Raphael e Echer (2022) – Exemplo: Sapezal – MT do desenvolvimento fenológico do algodoeiro em diferentes datas de semeadura mostra que semear o algodão no início da janela pode evitar ou diminuir estresses abióticos como baixa temperatura e a seca no final do ciclo do algodoeiro, diminuindo o efeito negativo na qualidade da fibra.

MT do desenvolvimento fenológico do algodoeiro em diferentes datas de semadura

O uso de plantas de cobertura é uma estratégia para aumentar a retenção de água no solo, e o manejo de regulador de crescimento melhora a transmissão de luz às folhas localizadas no terço inferior e médio da planta.

Referências

Chen, B. L. Yang, H. K. Ma, Y. N. Liu, J. R. Lv, F. J., Chen, J., Zhou, Z. G. (2017). Effect of shading on yield, fiber quality and physiological characteristics of cotton subtending leaves on different fruiting positions. Photosynthetica, 55(2), 240-250.

Lokhande, S. Reddy, K. R. (2014). Quantifying temperature effects on cotton reproductive efficiency and fiber quality. Agronomy Journal, 106(4), 1275-1282.

Tang, F. Zhu, J. Wang, T. Shao, D. (2017). Water deficit effects on carbon metabolism in cotton fibers during fiber elongation phase. Acta physiologiae plantarum, 39(3), 1-9.

Rahphael J. A. P. Echer, F. R. Clima e fenologia do algodoeiro em diferentes regiões produtoras do algodão. In: Echer, F. R. Rosolem, C. A. Fisiologia aplicada ao manejo do algodoeiro. Instituto Mato-grossense de Algodão: Cuiabá – MT, 2022. Capítulo 2. Página 53-81.

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