“Uma boa lavoura começa por uma boa semente”, embora as sementes de soja não recebam a merecida atenção por parte de alguns produtores, elas interferem diretamente no sucesso produtivo de uma lavoura, atuando em componentes de rendimento da soja, como o número de plantas por área (Zanon et al., 2018).

Em tese, um grão pode diferir de uma semente pelo seu potencial germinativo, entretanto, uma semente de soja de boa qualidade deve conter atributos além da germinação. Dentre os principais atributos de uma semente, podemos destacar a boa qualidade física, genética, fisiológica e sanitária.

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Segundo Santos (2020), uma semente com boa qualidade genética deve conter pureza varietal e representar seu material genético. Do ponto de vista físico, sementes de soja  de qualidade devem estar livre de impurezas e sem grandes danos mecânicos externos ou internos que possam prejudicar sua germinação e desenvolvimento da plântula.

Com relação a sanidade, sementes de qualidade devem estar livres de patógenos, impurezas ou pragas que possam comprometer seu desempenho ou causar redução de sua qualidade. Com relação a qualidade fisiológica, as sementes devem apresentar níveis bons de germinação e vigor.

Como a qualidade da semente de soja influencia na produtividade da soja?

A fim de obter altas produtividades de soja, é necessário trabalhar com populações de plantas ajustadas, próximas as recomendações técnicas para a culturas. Trabalhar com sementes de alto potencial germinativo, além de possibilitar a maior germinação e estabelecimento de plantas, proporciona redução da aquisição de sementes, visto que a utilização de sementes de baixa germinação reflete no uso de maior densidade de semeadura para compensar o déficit germinativo.

Além da germinação, o vigor é um dos principais atributos da semente diretamente relacionado com a produtividade da cultura. Embora ainda não haja um teste padronizado para analisar o vigor de sementes, é consenso que sementes de maior vigor tendem a resultar num melhor estabelecimento de plantas na lavoura e consequentemente maior produtividade da soja conforma observado por Scheeren et al. (2010), onde os autores observaram significativo aumento da produtividade da soja e de outras variáveis da planta com o uso de sementes de alto vigor.

Tabela 1. Altura de plantas em cm aos 21 e 75 dias após semeadura (DAS) vagens por planta, sementes por planta, peso 1.000 sementes e produtividade em kg.ha^-1, em função de níveis de vigor de sementes de soja.

Média seguida da mesma letra na linha não difere estatisticamente pelo teste de Duncan ao nível de 5% de probabilidade.

Fonte: Scheeren et al. (2010)

Em outras palavras, o vigor pode ser associado a velocidade de germinação e estabelecimento das plântulas, refletindo diretamente no estande de plantas e estabelecimento da lavoura a nível de campo.

Figura 1. Destaque de planta dominada em um estande de lavoura de soja, oriunda de semente de baixo vigor.

Foto: Roberto Kazuhiko Zito

Conforme destacado por Rossi; Cavariani; França-Neto (2017), a densidade populacional e o vigor de sementes afetam o desempenho agronômico de diferentes cultivares de soja, logo, um adequado estabelecimento e estande de plantas é fundamental para a obtenção de boas produtividades de soja.

Deterioração de sementes

A deterioração das sementes é um dos processos que resulta na perda de qualidade das sementes. Os casos mais comuns são a deterioração por umidade, por danos mecânicos e danos ocasionados por percevejos.

A deterioração por umidade pode ser observada a nível de campo ou no armazenamento das sementes, segundo França-Neto et al. (2016), a deterioração por umidade é o dano que mais evolui durante o armazenamento de sementes. Dentre outros fatores, a deterioração por umidade resulta no surgimento de microfissuras no tegumento das sementes, servindo como porta de entrada para patógenos.

Figura 2. Sementes de soja com sintomas típicos de deterioração por umidade. À esquerda: sementes secas com enrugamento; no centro: sintoma de deterioração por umidade, caracterizado no teste de tetrazólio; à direita, sementes de soja com rupturas no tegumento (França-Neto et al., 2016).

Fotos: José de Barros França-Neto

Por sua vez, sementes que sofreram o ataque de percevejo apresentam danos internos que podem ser observados com o auxílio do teste de tetrazólio, tendo como principal resultado a redução da germinação e vigor das sementes, interferindo diretamente na qualidade da germinação e estabelecimento de plantas. Sendo assim, a aquisição de sementes de qualidade conhecida e comprovada é de fundamental importância para prevenir o uso de sementes deterioradas.

Como a semente de soja pode reduzir a produtividade?

Embora a germinação e vigor sejam alguns dos fatores com influencia direta na produtividade da soja, em algumas situações seus efeitos podem ser atenuados com a compensação de sementes. Entretanto, mesmo em condições de boa qualidade fisiológica, física e genética das sementes, se não houver boa qualidade sanitária todos os demais atributos citados anteriormente serão prejudicados.

Patógenos causadores de doenças, assim como sementes de plantas daninhas presente nas sementes podem desencadear infestações de pragas e incidência de doenças na soja, reduzindo a produtividade da cultura. Um exemplo clássico é a presença de escleródios de mofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum) em sementes de soja, doença que segundo Meyer et al. (2014) pode causar redução de até 70% na produtividade da soja.

Figura 3. Sementes de soja misturadas a escleródios (A) e sementes mal beneficiadas contendo torrões de terra, que podem conter nematoides de cisto (B).

Fotos: José de Barros França-Neto

Com isso em vista, fica evidente a importância da qualidade das sementes não só para a obtenção de boas produtividades de soja, mas também para a manutenção dessa produtividade, visto que sementes de qualidade impactam diretamente nos componentes de produtividade da soja. Sendo assim, a premissa de que uma “boa lavoura começa por uma boa semente” é valida e de fundamental importância não só para a boa produtividade da soja, mas para a sustentabilidade do sistema de produção.

Referências:

FRANÇA-NETO, J. B. et al. TECNOLOGIA DA PRODUÇÃO DE SEMENTE DE SOJA DE ALTA QUALIDADE. Embrapa, Documentos, n. 380, 2016.

KRZYZANOWSKI, F.C.; FRANÇA-NETO, J. B.; HENNING, A. A. A ALTA QUALIDADE DA SEMENTE DE SOJA: FATOR IMPORTANTE PARA A PRODUÇÃO DA CULTURA. Embrapa, Circular Técnica, n. 136, 2018.

MEYER, M. C. et al. ENSAIOS COOPERATIVOS DE CONTROLE QUÍMICO DE MOFO BRANCO NA CULTURA DA SOJA: SAFRAS 2009 A 2012. Embrapa, Documentos, n. 345, 2014.

ROSSI, R. F.; CAVARIANI, C.; FRANÇA-NETO, J. B. VIGOR DE SEMENTES, POPULAÇÃO DE PLANTAS E DESEMPENHO AGRONÔMICO DE SOJA. Rev. Cienc. Agrar., v. 60, n. 3, p. 215-222, jul./set. 2017.

SANTOS, M. S. O QUE É QUALIDADE DE SEMENTES E POR QUE ELA É TÃO IMPORTANTE? Mais Soja, 2020.

SCHEEREN, B. R. et al. QUALIDADE FISIOLÓGICA E PRODUTIVIDADE DE SEMENTES DE SOJA. Revista Brasileira de Sementes, vol. 32, nº 3 p. 035-041, 2010.

ZANON, A. J. et al. ECOFISIOLOGIA DA SOJA: VISANDO ALTAS PRODUTIVIDADES. Santa Maria, 2018.