Cinco dicas para aplicar na fase de enchimento de grãos da soja

Para maior compreensão, o ciclo de desenvolvimento da soja pode ser subdividido em subperíodos, nos quais podem ser observadas diferentes exigências da cultura. Conforme destacado por Zanon et al. (2018), os subperíodos do desenvolvimento da soja com maior importância agronômica são os subperíodos da semeadura-emergência; desenvolvimento vegetativo; florescimento; enchimento de grãos e maturação fisiológica.

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Dentre esses, o subperíodo do enchimento de grãos é um dos mais sensíveis a variações de fatores bióticos e abióticos. A fase de enchimento de grãos é um período de rápido acúmulo de matéria seca e nutrientes nos grãos e a limitação de fatores como água e nutrientes pode resultar em drásticas reduções da produtividade da soja. Além disso, é comum observar a influência de pragas e doenças que acometem a cultura da soja durante esse período, depreciando grãos e sementes.

Tendo em vista os aspectos observados, é necessário destinar maior atenção a esse período do desenvolvimento da soja. Confira abaixo cinco dicas para aplicação na soja na fase de enchimento de grãos.

1. Nutrição equilibrada

É conhecido que para a obtenção de altas produtividades é necessária uma nutrição equilibrada, sendo que a deficiência de algum nutriente pode limitar a produtividade da cultura, mesmo que os demais estejam presentes em grandes quantidades no solo. Por ser considerado um período de rápido acúmulo de matéria seca e nutrientes nos grãos, um déficit nutricional durante esse período pode reduzir significativamente a produtividade da soja.

Em condições de adequados níveis nutricionais, sob a ocorrência ou não de estresses, a aplicação de micronutrientes  e/ou bioreguladores durante o enchimento de grãos, pode contribuir para o aumento da produtividade da soja, contudo cabe destacar que a aplicação foliar de qualquer um desses produtos durante esse período deve ocorrer com o intuito de ajuste fino da nutrição, e não como fonte de correção.

2. Requerimento hídrico

O subperíodo do enchimento de grãos é um dos períodos de maior requerimento hídrico pela cultura da soja. Conforme destacado por Farias; Nepomuceno; Neumaier (2007) a evapotranspiração da cultura da soja pode variar de acordo com o ciclo de desenvolvimento da planta, sendo possível observar picos de evapotranspiração de até 8 mm.dia-1 durante o enchimento de grãos.  Em virtude da grande produção de fotoassimilados durante esse período e a transferência deles para os grãos, a ocorrência de déficits hídricos prolongados durante essa fase pode resultar em grãos “chochos”, mal formados e de baixo peso, reduzindo significativamente a produtividade da soja.

Em áreas de sequeiro (sem irrigação), o posicionamento de cultivares frente a época de semeadura e recomendações técnicas para a cultura é de suma importância para reduzir os riscos decorrentes da ocorrência de déficits hídricos. Já em áreas irrigadas, deve-se redobrar a atenção ao manejo da irrigação, ajustando a lâmina irrigada quando necessário para suprir a demanda hídrica da cultura.

3. Pragas desfolhadoras

Em R5, tem-se o máximo índice de área foliar, desenvolvimento de raízes e fixação de nitrogênio pelos nódulos da fixação biológica de FBN (Zanon  et al., 2018). Tendo em vista que as folhas são as principais responsáveis pela fotossíntese e produção de fotoassimilados para a planta, a ocorrência de pragas desfolhadoras pode reduzir a área fotossinteticamente ativa, reduzindo a produção de fotoassimilados e consequentemente o acúmulo deles nos grãos, refletindo em baixas produtividade da soja. Com isso em vista, deve-se controlar pragas desfolhadoras quando atingidos os níveis de ação pré-estabelecidos para a cultura.

Tabela 1. Níveis de ação para as principais pragas da cultura da soja nos estádios vegetativos e reprodutivos.

Níveis de ação para as principais pragas da cultura da soja nos estádios vegetativos e reprodutivos

Os níveis foram estabelecidos com o número de insetos por metro de linha da cultura.

Fonte: Grigolli & Grigolli (2018)

4. Pragas que atacam vagens e grãos

Durante o período do enchimento de grãos, é comum observar a ocorrência de pragas que podem causar tanto danos de ordem quantitativa, quanto de ordem qualitativa na soja. Dentre as principais pragas podemos destacar os percevejos, insetos pertencentes a ordem Hemiptera que possuem aparelho bucal picador-sugador.

Além de picar os grãos ou sementes de soja para se alimentar causando perdas quantitativas, os percevejos podem causar danos qualitativos, podendo sua punctura causar redução de atributos como germinação e vigor. Além disso, os percevejos podem ser considerados vetores de doença virais que prejudicam o crescimento e desenvolvimento da soja e limitam sua produção.

Figura 1. Danos quantitativos das principais espécies de percevejo na cultura da soja.

Danos quantitativos das principais espécies de percevejo na cultura da soja

Fonte: Mais Soja

Tendo em vista os impactos causados pela praga, o monitoramento e controle de percevejos é de suma importância durante o período de enchimento de grãos, especialmente se tratando da produção de sementes.

5.Doenças

Doenças como a Antracnose (Colletotrichum truncatum), ferrugem-asiática-da-soja (Phakopsora pachyrhizi) e doenças de final de ciclo da soja (DFCs), sobe condições ambientais adequadas podem incidir a cultura da soja durante o período de enchimento de grãos causando severas perdas produtivas e qualitativas.

Ainda que a qualidade da aplicação de defensivos seja comprometida durante esse período em virtude do fechamento das entrelinhas pelo dossel da cultura, em algumas situações as aplicações de defensivos podem ser necessárias para evitar maiores perdas produtivas. Contudo, se tratando do manejo da ferrugem-asiática, não é recomendada a aplicação de defensivos quando a doença ocorre a partir dos estádios R6 a R7 (Zanon et al., 2018).

Cabe destacar que além de conhecer as exigências da cultura, o monitoramento das áreas e produção é indispensável para observar possível medidas de intervenção durante o período do enchimento de grãos, possibilitando não só a obtenção de altas produtividades, mas também a manutenção da qualidade da soja produzida.

Referências:

FARIAS, J. R. B.; NEPOMUCENO, A. L.; NEUMAIER, N. ECOFISIOLOGIA DA SOJA. Embrapa, Circular Técnica, n. 48, 2007.

GRIGOLLI, J. F. J.; GRIGOLLI, M. M. K. PRAGAS DA SOJA E SEU CONTROLE. Fundação MS, Tecnologia e Produção: Soja 2017/2018, 2018.

HENNING, A. A. et al. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DE DOENÇAS DE SOJA. Embrapa, Documentos, n. 256, 2014.

MAIS SOJA. DANOS, MANEJO E CONTROLE: CONHEÇA OS PERCEVEJOS DA SOJA, 2020.

ZANON, A. J. et al. ECOFISIOLOGIA DA SOJA: VISANDO ALTAS PRODUTIVIDADES. Santa Maria, ed. 1, 2018.

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