Um dos cultivos de maior importância econômica, cultural e social, o feijão está difundido por todo território brasileiro, sendo o terceiro grão mais plantado (em ha), atrás apenas da soja e do milho. Independente da variedade ou cultivar, o cultivo de feijão é conhecido por sua complexidade de manejo, especialmente em regiões de agricultura intensiva, com temperaturas amenas e elevada umidade relativa do ar, fato que favorece o desenvolvimento de doenças na cultura.
Não consegue ler agora? Aproveita então para ouvir a versão em áudio deste post no player abaixo:
Considerada uma cultura sensível a pragas, doenças e condições ambientais, certos cuidados são necessários na fase de implantação da lavoura de feijão para a obtenção de altas produtividades do grão. Fatores como clima, fertilidade do solo, cultivar, hábito de crescimento, sistema de produção e resistência a pragas e doenças devem ser levados em consideração no início da implantação da lavoura.
O cuidado com todos esses pontos são fundamentais para garantir um adequado estande de plantas, estabelecimento da lavoura e rentabilidade do cultivo, contudo, tanto pragas quanto doenças devem receber atenção especial durante o ciclo de desenvolvimento do feijoeiro. Independente da época de semeadura do feijão, 1ª safra 2ª safra ou 3ª safra deve-se estabelecer certos cuidados nos estádios iniciais da lavoura.
Condições de elevada umidade do solo além de prejudicar o estabelecimento da lavoura favorecem o desenvolvimento de doenças fúngicas a exemplo da Fusariose. Popularmente conhecida como Podridão-radicular-seca (Fusarium solani) essa doença causa lesões no colo da planta, podendo causar destruição das raízes primárias impossibilitando a absorção de água e nutrientes do solo, refletindo na morte de plantas e redução do estande (Wendland; Lobo Junior; Faria, 2018) .
Figura 1. Sintomas típicos de Podridão-radicular-seca (Fusarium solani) nas raízes de feijoeiro-comum.
Doenças como a Antracnose (Colletotrichum lindemuthianum), e a Podridão-radicular de Rhizoctonia solani também são comuns em algumas áreas de produção do feijão nos estádios iniciais do estabelecimento da cultura. No caso da Antracnose, o patógeno é capaz de infectar as sementes, provocando sintomas como a formação de pequenas lesões escuras nos cotilédones e lesões superficiais ou deprimidas no hipocótilo. Já a Rhizoctonia solani, quando a infecção ocorre no estágio de plântula, o fungo produz lesões deprimidas de forma irregular, com a cor castanho-avermelhada na base do caule, que resultam em morte de boa parte do sistema radicular e/ou tombamento das plântulas (Wendland; Lobo Junior; Faria, 2018).
Dentre as possíveis práticas de manejo para controle dessas doenças, podemos destacar o uso de sementes certificadas (livre de patógenos e de boa qualidade física, fisiológica, genética e sanitária), a semeadura e implantação da cultura em áreas bem drenadas, a boa e velha rotação de culturas e principalmente, o tratamento de sementes com fungicidas específicos para o controle dessas doenças.
Figura 2. Sintomas de Antracnose em plântulas de feijoeiro-comum.
Foto: Adriane Wendland
Além da alta suscetibilidade a doenças, pragas iniciais também são problema para o cultivo de feijão. Insetos como o Gorgulho-do-solo (Teratopactus nodicollis); coros, lagarta-rosca (Agrotis ipsilon); Lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus), Spodoptera (Spodoptera frugiperda) e larva-alfinete (Diabrotica speciosa) podem causar sérios danos a plântulas de feijão. Os danos variam em função das pragas, mas pode ocorrer desde destruição das raízes da plântula a seu corte a nível do solo.
Figura 3. Danos de Spodoptera frugiperda em plântulas de feijão.
Foto: Eliane D. Quintela
Dentre as principais consequências do ataque de pragas no início do desenvolvimento da cultura podemos destacar a redução do estande de plantas, implicando diretamente no número de plantas por metro quadrado. Além dessas, outra praga que causa sérios danos a cultura é a Mosca-branca (Bemisia tabaci). Considerada uma praga sugadora, seus principais danos não estão relacionados a sucção de seiva das plantas, mas sim a transmissão do vírus do mosaico-dourado “Bean Golden mosaic virus” e mais recentemente observado o carlavírus “Cowpea mild mottle virus”. Os danos são mais significativos quanto mais jovem a planta for infectada pelos vírus, podendo ocorrer perda total da produção (Quintela & Barbosa, 2015).
Assim como para o controle de doenças de início de ciclo do feijão, o tratamento de sementes exerce significativo efeito para o controle de pragas iniciais, sendo assim, deve-se aliar ao tratamento de sementes com fungicidas, inseticidas para controle dessas pragas. Além do uso desses produtos no tratamento de sementes, é fundamental atentar para a qualidade desse tratamento.
Além de todos esses cuidados citados anteriormente (sementes de qualidade, tratamento de sementes, controle de pragas e doenças…), deve-se atentar para a profundidade de semeadura e distribuição de sementes para o cultivo do feijão, utilizando populações adequadas, com base nas recomendações técnicas da empresa detentora da tecnologia (produtora da semente). Elevadas profundidades de semeadura podem dificultar a emergência das plantas de feijão, retardando o estabelecimento da lavoura. A recomendação geral é utilizar 3 a 4 cm de profundidade em solos argilosos ou com umidade adequada, e, 5 a 6 cm em solos arenosos, em virtude da evaporação (perda) de água mais rápida, especialmente em sistemas sem palha na superfície. Em plantio realizado com solo frio, deve-se optar por profundidade de 3 a 4 cm (Comissão Técnica Sul-Brasileira de Feijão, 2012).
Figura 4. Emergência de plântula de feijão.
Fonte: Agroclima by Climatempo
Outro fato importante sobre o cultivo de feijão, deve-se atentar para o manejo e controle de plantas daninhas, uma das principais estratégias é realizar a implantação da lavoura “no limpo”, especialmente se tratando de lavouras sob sistema de plantio direto. A estratégia favorece o estabelecimento da cultura, antes que ocorra mato competição com plantas daninhas, mas atenção, é essencial identificar as principais espécies de daninhas presentes na área de cultivo, visando determinar o período ideal para controle delas sem que ocorram interferências na produtividade do feijoeiro.
No sistema plantio direto, o uso abundante de palhada residual auxilia no controle de plantas daninhas, atuando especialmente nos fluxos de emergência de espécies fotoblásticas positivas, as quais necessitam de luz para emergir. Como visto anteriormente, uma série de fatores podem intervir no estabelecimento da lavoura de feijão, sendo assim o cuidado com a lavoura nos estádios iniciais do seu desenvolvimento é indispensável para a obtenção de adequadas populações de plantas e boa produtividade da lavoura.
Referências:
AGROCLIMA. Principais doenças da cultura do Feijão. Agroclima by Climatempo.
CTSBF – COMISSÃO TÉCNICA SUL-BRASILEIRA DE FEIJÃO. INFORMAÇÕES TÉCNICAS PARA O CULTIVO DE FEIJÃO NA REGIÃO SUL BRASILEIRA, 2012.
QUINTENA, E. D.; BARBOSA, F. R. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DE INSETOS E OUTROS INVERTEBRADOS PRAGAS DO FEIJOEIRO: 2° EDIÇÃO ATUALIZADA. Embrapa, Documentos, n. 246, 2015.
VERZUTTI, J. PLANTAÇÃO DE FEIJÃO: CUIDADOS NA HORA DE SEMEAR! Agropos.
WENDLAND, A.; LOBO JUNIOR, M.; FARIA, J. C. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DAS PRINCIPAIS DOENÇAS DO FEIJOEIRO-COMUM. Embrapa, 2018.
0 comentários