Fisiologia vegetal: como o estresse impacta as plantas?

A fisiologia vegetal é um campo de estudo que tem como objetivo analisar as diversas funções e processos de uma planta, tais como a fotossíntese, a germinação de sementes, os hormônios vegetais, a respiração das células etc. Ou seja, analisar como as plantas crescem, como elas se desenvolvem e como funcionam à medida que interagem com inúmeros fatores do ambiente, sejam eles físicos (abióticos) ou fatores vivos (bióticos).

Para quem trabalha no campo, utilizar os conhecimentos sobre fisiologia vegetal é muito importante para entender de que forma os fatores estressantes podem afetar toda a produtividade de uma lavoura. 

E é sobre isso que vamos falar no texto de hoje aqui do nosso blog. Continue a leitura e aproveite!

Não consegue ler agora? Aproveita então para ouvir a versão em áudio deste post no player abaixo.

Como as plantas lidam com situações de estresse

Para entender de que forma as plantas lidam com situações estressantes, vale fazer um comparativo com nós, seres humanos. Quando estamos chateados ou nervosos por algum motivo, vamos logo procurar uma atividade que nos relaxe e nos faça esquecer dos problemas, não é?

Com as plantas não é assim. Diferente de nós, as plantas não conseguem se isolar dos inúmeros estresses que elas enfrentam e passam diariamente. Isso porque elas são seres estáticos e que se desenvolvem em altas densidades. Assim, precisam conseguir lidar com essas condições adversas do ambiente para se manterem vivas e se desenvolverem.

Por serem imóveis, os vegetais apresentam uma série de mecanismos que os ajudam a lidar com o ambiente. Por exemplo: as plantas conseguem sentir onde é que está a maior umidade do solo. Assim, elas tendem a crescer naquela direção para que possam absorver a água de um modo mais eficiente. 

Além disso, uma outra habilidade muito importante que garante a adaptação das plantas em um ambiente agrícola é a capacidade de controlar a transpiração. Como todos sabem, as plantas transpiram e eliminam água como nós. Mas esses mecanismos de controle são muito importantes principalmente em dias mais quentes, para que a temperatura das folhas se mantenha estável.

Resumindo: as plantas funcionam como pequenas fábricas que, além de produzirem o próprio alimento a partir da luz do sol, da água e do ar, são capazes de produzir uma série de substâncias que a ajudam a lidar com um ambiente agrícola estressante. 

Usando a fisiologia vegetal para aumentar a produtividade

Dominar a fisiologia vegetal, ou seja, entender de que forma as plantas funcionam e como elas interagem com todos os fatores do meio é de extrema importância quando nós pensamos em buscar novos patamares de produtividade.

Como nós dissemos anteriormente, existem dois tipos de fatores externos que podem influenciar o desenvolvimento de uma planta: abióticos e bióticos

Os fatores abióticos estão relacionados a características do solo, como pH, teor de nutrientes, a própria mistura do solo e outros fatores relacionados ao clima, como água, luz, temperatura etc. Quanto a esses fatores físicos, podemos considerar que o homem tem pouca ou nenhuma ação sobre eles.

Já os fatores bióticos dizem respeito aos organismos vivos, como pragas e doenças (que podem causar enormes problemas para a agricultura), micro-organismos benéficos (como as bactérias fixadoras de nitrogênio) e o próprio homem, que interfere no desenvolvimento de uma planta através de uma série de práticas de manejo. 

Tecnologia a favor da produção

Desde meados da década de 60, a chamada Revolução Verde que começou nos EUA e se espalhou pelo mundo permitiu o desenvolvimento de uma série de práticas agrícolas que têm cooperado para aumentar a produtividade no campo. 

Gráfico ilustrando a produtividade da soja

No gráfico acima, podemos observar as médias de produtividade da cultura da soja no Brasil ao longo de 25 anos. Todas as tecnologias que foram desenvolvidas até hoje (como o manejo de pragas e doenças, o uso de fertilizantes, o desenvolvimento de implementos agrícolas e a evolução genética) contribuíram e tem contribuído para esses saltos de produtividade. 

Se analisarmos a safra de 1995/96, a produtividade média da soja no Brasil girava em torno de 2 toneladas por hectare. Enquanto isso, na safra de 2019/20, a produtividade subiu para cerca de 3,3 toneladas por hectare. Ou seja, em 25 anos o avanço tecnológico contribuiu para aumentar a produtividade média da cultura da soja no Brasil em torno de 1,3 tonelada por hectare.

Flutuações

Ainda sobre o gráfico acima, é possível notar uma grande instabilidade do sistema produtivo ano a ano. E grande parte disso deve-se à influência de fatores que nós temos pouco controle, que são aqueles relacionados ao clima.

Então, se a planta pode se deparar com uma série de situações em que vão faltar recursos para ela, o que nós precisamos almejar em termos de manejo é: quanto mais condição eu der para essa planta produzir mais alimento (ou seja, quanto mais ela conseguir usar a luz do sol para produzir mais por cm² de folha por dia), maior será a quantidade de alimento que essa planta vai ter para utilizar em todos seus processos de desenvolvimento. Além disso, e o mais importante: maior será o excedente de alimento que iremos colher na forma de produtividade, que é o que traz rentabilidade para o agricultor. 

Fisiologia vegetal: equação da produtividade

Fisiologia vegetal: o manejo em altas temperaturas

Muita gente se pergunta como contornar os problemas de altas temperaturas, que são muito comuns no Brasil e em outros países do mundo. De acordo com um estudo publicado na revista científica Nature, as altas temperaturas podem levar a perdas produtivas de até 40% do potencial atingível das culturas no nosso país. 

Gráfico ilustrando o estresse das plantas por altas temperaturas

Nesses casos, é preciso atuar sobre a planta para que ela se torne mais tolerante a essas condições adversas. Nesse sentido, é possível trabalhar a planta para maximizar seus processos de uma série de formas. 

Por exemplo: podemos estimular o crescimento e a manutenção de radicelas, que são as raízes bem fininhas que a planta está lançando o tempo todo e que são responsáveis por absorver água e nutrientes. Mas por que isso é tão importante?

Porque a absorção de água em níveis adequados é o que vai permitir que a planta controle sua temperatura foliar em climas mais quentes. Afinal, estudos mostram que temperaturas acima de 30ºC podem afetar a fotossíntese e, por consequência, a produtividade.

Fisiologia vegetal: a importância das raízes

Estímulo da fotossíntese

Além disso, um outro fator que podemos atuar e interferir em nossa planta é o estímulo na manutenção do processo da fotossíntese. Como nós já dissemos anteriormente, uma planta que faz mais fotossíntese por cm² de folha utiliza seus recursos de forma mais eficiente. Isso porque a perda de água durante esse processo é constante. Por isso, quanto mais fotossíntese a planta realizar em um determinado período de tempo, menor vai ser o gasto de água para a mesma produção de energia e, consequentemente, de grãos. 

Assim, é possível concluir que plantas com folhas bem verdes e com uma boa arquitetura terão maior eficiência de utilização da luz do sol e estarão aptas para produzir mais, já que elas irão sofrer menos com as condições extremas.

Conclusão

O manejo de pragas e doenças é extremamente importante para preservar a área foliar. Controlar as plantas daninhas é fundamental para aumentar a fotossíntese. Utilizar fertilizantes via solo e via folha é essencial, já que os nutrientes são muito importantes para o desenvolvimento saudável do vegetal. Mas só isso não basta!

É preciso também manejar a planta no sentido de potencializar sua funcionalidade para que ela esteja mais apta a lidar com fatores imprevisíveis que a gente sabe que ocorrem durante o seu ciclo de cultivo no campo. Viu porque a fisiologia vegetal é tão importante?

Vale lembrar que os fatores estressantes podem ser ainda mais prejudiciais em alguns momentos críticos da vida da planta, como o florescimento e a frutificação. Isso porque nestes momentos a planta precisa manter em atividade uma série de estruturas, como raiz ativa absorvendo água e nutrientes e folhas verdes fazendo fotossíntese. Assim, qualquer fator estressante nessas fases pode provocar altos índices de abortamento, que alguns casos ultrapassam os 70%. É isso que faz com que a gente perca grande parte do potencial produtivo da florada em diante. 

Para ajudar a garantir altas produtividades, já é consolidado no mercado o uso de tecnologias que apresentam alta eficácia no campo e que ajudam a planta a lidar com as situações estressantes. 

Os reguladores vegetais

Os reguladores vegetais, por exemplo, atuam como sinalizadores no interior da planta, promovendo seu funcionamento de maneira adequada em situações em que ela não está funcionando 100%. Eles têm ação em toda a planta e ao longo de todo o ciclo, desde a germinação de emergência, passando pela formação de sistema radicular e construindo uma melhor arquitetura (tanto do sistema radicular quanto da parte aérea). Tudo isso favorece uma maior produção de energia com menor gasto de água.

A importância da fisiologia vegetal

Durante o período reprodutivo, os reguladores vegetais atuam também reduzindo o abortamento de flores, frutos e vagens, que é o grande interesse de nós, produtores. E todas essas características juntas resultam na elevação do nosso patamar de produtividade, que é o que a gente tanto almeja.

 

Quer saber mais?

No episódio abaixo, o especialista Felipe Ricardo da Silva explica o que é Fisiologia Vegetal e como o conhecimento desse tema impacta diretamente na produtividade da lavoura, confira:

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